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sábado, 18 de maio de 2013


Vim embora da roça pensando:
 “assim caminha a humanidade”,
e as Empresas?

O ambiente era de um velório na roça. Sujeito engraçado, querido, lendário, morreu. Se era popular? É claro, o velório tava cheio de gente, ainda mais velório em casa. Vamu bebê fulano lá na casa dele! Assim se fala no interior.

A prosa iniciou-se com um cumprimento: oi cê tá bão? Há quanto tempo não nos vemos! Pois é faz uns 30 anos. Pois é, trinta anos atrás eu estava com 30 anos, você hoje tem quantos anos? O outro prontamente disse 75. Então nossa diferença é de 15 anos, beirando os 60, exclamei!

A conversa foi evoluindo. Quando eu tinha 30 anos você tinha 45 e eu vinha aqui passear e achava você velho pra caramba. Isso; acho eu, é porque sou de cidade grande, vinha aqui nessa roça passear.  Andava na moda, tênis, calça jeans, óculos escuros, boné invocado, camiseta certinha no corpo, não tinha nem barriga. E você, vestia-se como está hoje, calça de casimira e camisa de tecido convencional, boco moco. Desculpe a sinceridade, mas acho isso mesmo, você é meio boco moco. Concordaram.

Mas me diga, quem é que envelheceu mais? Pensa bem! Se o boco moco aqui tinha 45 e você 30, então valia uma vez e meia você. Agora eu tenho 75 e você 60, faça a conta, você tá me apanhando, você é que está ficando velho. Nada pude fazer, ele me trucou, realmente o boco moco tava certo, 75 dividido por 60 não dá nem número inteiro. Fiquei com uma sensação de velho.

Ficamos ali, jogando conversa fora, perguntei sobre aquele lavrador que saia lá do seu canto onde nem luz tinha para vir até a venda do finado tomar umas. Lembramos; o dito cujo chegava lá na venda batia no lombo do burro e o burro voltava sozinho lá pro canto escuro no meio do mato. Lá pro meio das tantas o lavrador ia embora, a pé, trupicando nas pedras e falando o nome vulgar da genitália feminina. Isto depois de ter falado o palavrão pela enésima vez lá na venda, com a boca cheia, várias vezes. Teve até caso de um turco que jurou o lavrador de morte. Toda noite a mesma coisa, o lavrador ia embora rua afora, trupicava e gritava o palavrão.  Foi jurado de morte. Se ele trupicasse na frente da casa do turco falasse aquele palavrão debaixo da janela de suas três moças, morria. Não deu outra, o pobre labrador tomou umas, ia voltando a pé e trupicou, gritou: tem jeito não turco, é ela mesma!  Morrer não morreu, foi me dito, tá vivo até hoje, mas não anda mais de burro, só de cadeira de rodas, precisa sempre de um apoio um parceiro forte, inteligente e que tenha boa vontade. O burro já morreu.

Bom; a conversa voltou aos trilhos, a roda aumentou, e o sujeito que havia me trucado, o boco moco, resolveu contar a conversa para os outros. Não deu outra, um habilidoso negociante contou um caso semelhante. Era um sujeito de 60 anos, havia lhe tapeado quando ele tinha 20 anos. Foi numa venda de gado, coisa de por o gado em um pasto emprestado e o ancião ao invés de vender o gado dele vendeu o gado do jovem negociante que estava em seu pasto. Daí houve um acordo e o jovem ficou conformado, respeitou, pois o ancião tinha 3 vezes a sua idade. Daí a mais exatamente 20 anos o experiente negociante já com 40 anos foi tapeado de novo pelo ancião, à ocasião com 80 anos. Tinha o ancião liberado a porteira para que ele levasse um gado, quando tinha pesado outro gado. Levou gado magro por gado gordo. Nesta não teve jeito, voltou lá e desfez o negócio dizendo: daquela vez ocê valia 3 de eu, agora não, cê tem 80 e eu 40, portanto não o respeito tanto, você só vale 2 de eu!

No trilho a conversa seguiu, chegou o pai do jovem negociante e falou: quando você nasceu eu tinha 20 anos, eu valia 20 docê. Você quando tinha 10 anos eu tinha 30; só valia 3 docê. Ficamos perplexos, “assim caminha a humanidade”, era a frase clássica que veio a todos, na reflexão.

Vim embora da roça pensando: a vida empresarial é assim também. Algumas empresas ficam estabilizadas enquanto as outras vão se aproximando em valores os mais diversos como marca, tamanho, mercado.  Temos exemplos de tradicionais empresas gigantes que perderam espaço para jovens empresas e sucumbiram. Realmente, há empresas mais antigas que eram várias vezes maiores que outras mais novas e menores e foram diminuindo ou ficaram estagnadas enquanto as mais novas cresciam. Há ainda empresas tradicionais que para continuarem ativas tiveram que buscar parcerias. Já não é nem absolutamente certo que uma empresa deva almejar a sobrevivência - pelo menos nos moldes em que foi criada.